Por: Ana Carolina F. Carvalho e Paula Teodoro
Para facilitar a vida do consumidor na hora de comprar roupas em brechós e bazares, o Lamparina mapeou dez desses locais na cidade de Mariana, com informações de preços, estilo e localização. Confira ao final da reportagem.
Variedade de peças do Brechó Customizer. Foto: Ana Carolina F. Carvalho
“Vai fazer quatro anos, e surgiu da seguinte forma: quando eu fiquei desempregada. Eu moro em Mariana já faz seis anos e, com a tragédia que teve, minha mãe me deu a idéia... minha irmã tinha muitas roupas e doou pra mim. Minha mãe falou que não estava usando a garagem, porque aqui é a casa dela e aí disse: 'vamos abrir um brechó nós duas, com as roupas que tem'. E foi assim que surgiu”. É assim que Gislaine Cristina de Castro, 38 anos, explica como teve a ideia para montar o brechó Q Chic, na rua Wenceslau Braz. Como muitas outras pessoas, ela enxergou uma possibilidade de um trabalho mais informal, e ainda assim lucrativo.
A informalidade do trabalho é uma tendência atual do mercado. Segundo a Agência Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste ano apontam que a categoria de trabalhadores por conta própria aumentou 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Para Gislaine, que é mãe de duas crianças, a informalidade é uma grande vantagem, pois permite que ela crie seus próprios horários para atender os clientes, conciliando com a rotina de cuidar dos filhos.
A dona do Q Chic também comenta que percebe um aumento no número de bazares e brechós na cidade. Dos dez comércios visitados pelo Lamparina, seis existem há menos de um ano. Alguns dos motivos para esse crescimento podem ser o desemprego e a crise econômica que Mariana vive desde o rompimento da barragem. Em março deste ano, o prefeito Duarte Júnior chegou a declarar estado de calamidade financeira para o município, afirmando, na época que “a situação é crítica e caótica, pois 85% da nossa receita vem da mineração”.
Outro motivo pelo qual os brechós e bazares se tornaram uma opção popular de empreender é o fato de que são vendidas roupas usadas ou semi-novas, portanto, o custo para adquirir as peças é bem menor do que em uma loja convencional. Maria José Divino, 61 anos, começou o Bazar da Maria há cerca de um ano e conta: “Tô tendo mais lucro do que quando eu vendia as roupas novas, porque as novas eram mais caras, a pessoa comprava “mais pouco”, e aqui elas compram muito”.
Mas, para essas pessoas que recorreram ao brechó ou bazar como opção de sustento, ele se tornou mais do que isso. O tempo de parar, dialogar e criar vínculos realmente se tornou raro e até mesmo impossível, principalmente se estamos falando de uma cidade turística, plural e ativa como Mariana. Entrar para apreciar, comprar e trocar algumas palavras é uma das grandes características dos brechós/bazares visitados pela reportagem. A cada cliente que entra no estabelecimento, uma amizade se inicia.
“Há uns anos atrás eu trabalhava com roupas novas, e aí eu já tenho aquela clientela, sabe? A gente fez um cartãozinho. Elas levam e aí elas vão repassando pra frente.” Maria José Divino, dona do Bazar da Maria. Foto: Ana Carolina F. Carvalho
Cleuza de Fátima dos Santos, 61 anos, que é dona do Madame Brechó, confirma e acrescenta que se sente muito bem por conta desse vínculo afetivo: “Eu já fiz vários amigos aqui, as pessoas chegam para olhar, sentam do meu lado e contam sobre a vida delas, como se já me conhecessem há muito tempo. Eu fico me sentindo muito bem com isso, sinto que estou fazendo o bem para as pessoas, porque hoje em dia está tão difícil das pessoas ouvirem, então é bom ouvir e ter alguém para te ouvir também”.
Cleuza de Fátima dos Santos, dona do Madame Brechó, aproveita as visitas de clientes para conversar e mostrar seus artesanatos, que também são expostos no local. Foto: Ana Carolina F. Carvalho
Mas, apesar da diversidade de brechós e bazares na cidade, o preconceito contra as roupas usadas ainda existe. Muitas pessoas mantêm a ideia de que todos os brechós vendem roupas antigas, com cheiro de mofo, em péssimas condições de uso. Entretanto, cada lugar tem seu estilo e atende a um tipo de público. O brechó Carmelita, por exemplo, deixa clara a preferência por roupas de estilo vintage - a moda vintage ou estilo vintage volta-se para roupas que estão relacionadas ao passado, tanto na qualidade do tecido quanto no estilo de costura. Já o Dondocas tem mais roupas contemporâneas, como shorts jeans, calças, etc. O brechó Customizer já existe há mais de seis anos, e tem uma variedade enorme e roupas, sapatos, acessórios e bolsas.
Outro ponto que atrai a atenção dos consumidores é a organização e a aparência do estabelecimento. Em conversa com Eliane Fátima Gomes, consumidora do Brechó Dondocas, conta: “O ambiente também é importante, eu reparo muito isso, porque tem lugar que tem brechó e não é aquela coisa. Aqui é encantador, você pode reparar que as peças estão no cabide, são organizadas.”
A decoração do Dondocas prioriza a organização das peças e a fácil visualização delas, assemelhando-se a uma loja convencional. Foto: Paula Teodoro
Existem diferenças entre brechó e bazar. Por exemplo, o termo garimpagem vem para caracterizar principalmente o bazar, já que sua principal característica é um número bem variado de peças, com um preço acessível, mas que em si não são catalogadas e selecionadas. Dessa maneira, o entrar e passar algumas horas procurando roupas para achar o que agrada e seja seu estilo é um trabalho contínuo que você terá que fazer e exige tempo, em contraponto te garante ótimos achados. O brechó, por outro lado, geralmente tem uma curadoria, ou seja, uma seleção das roupas para que sigam o estilo do local. Anne Porto, dona do Brechó Carmelita, explica que essa seleção ajuda a fidelizar o público, pois o cliente sabe que sempre irá encontrar roupas de um estilo.
Confira no link o infográfico com as informações sobre brechós/bazares, e nos siga no Instagram, para ver mais achados de brechó.