Câncer de próstata: a falta de acesso à cirurgia robótica pelo SUS, em Minas Gerais

 

Com uma estimativa de 43,78 casos a cada 100 mil homens, Minas tem na tecnologia a solução para diminuir o avanço da mortalidade pela doença

Por: Isabela Sampaio e Pablo da Matta

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O Câncer de próstata, doença com um risco estimado de 62,95 casos a cada 100 mil homens, mesmo que comum, ainda é um tabu enfrentado pelo sexo masculino. O diagnóstico é possível por meio de atendimento médico e exames periódicos, como o exame de toque retal ou a dosagem do antígeno prostático específico (PSA), porém, com a dificuldade de diagnosticar a doença devido ao preconceito, muitos pacientes descobrem tardiamente a doença, o que acaba por dificultar seu tratamento.

Possibilitada pelo avanço tecnológico, a cirurgia robótica - assistida por robô - tem demonstrado eficácia no combate a esta patologia e proporcionado aos pacientes um procedimento cirúrgico menos invasivo e maior conforto pós-operatório. O procedimento permite, caso a doença seja diagnosticada em sua fase inicial, taxas de cura superiores a 90% e preservação dos nervos responsáveis pela ereção. Entretanto, é fato que por se tratar de uma nova tecnologia, o custo operacional da cirurgia é alto, variando entre 20 a 35 mil reais, o que acaba limitando a acessibilidade de pacientes que dependem da rede pública de saúde a esse tipo de procedimento.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, em Minas Gerais para cada 100 mil homens a taxa estimada é de 43,78 casos, evidenciando como a falta de acesso a um tratamento adequado causa uma diminuição na procura por atendimento médico e na realização do exame preventivo de toque.

Acesso

Trazida para Minas em 2016, a cirurgia assistida por robô ainda é restrita apenas aos hospitais da rede privada de saúde, visto que no país existem somente 80 polos hospitalares que a oferecem como tratamento para o câncer de próstata. No estado mineiro, o procedimento é disponibilizado pelo Instituto Cirurgia Robótica Ciências Médicas, em parceria com os hospitais Vila da Serra, Felício Rocho, Uberlândia Medical Center e Instituto Orizzonti, todos pertencentes à rede privada de saúde.

Para o médico uro-oncologista especialista em cirurgia robótica, André Matosuro, a cirurgia assistida por robô é um procedimento que não tem ampla acessibilidade na rede pública e gera discussões, até na rede privada, devido ao alto custo e ao fato de os planos de saúde não serem capazes de custear todo o tratamento. “Em relação ao SUS, alguns poucos hospitais conseguem fazer o tratamento através da cirurgia robótica, por meio de filantropias, mas num volume muito, muito baixo”, diz o oncologista.

O especialista afirma, ainda, que os valores repassados aos hospitais pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são desatualizados e equivalentes ao custo de uma cirurgia convencional. “Temos uma lista de procedimentos, materiais e equipamentos que o SUS paga para os hospitais e, nessa lista vem descrita a Prostatectomia (cirurgia realizada para remoção da próstata). Para se ter ideia, esse código contempla a cirurgia aberta, de corte. Nem a cirurgia por videolaparoscopia, que tem uma geração mais antiga do que a robótica, o SUS disponibiliza” ressalta o médico.

O tabu do câncer de próstata

A falta de acessibilidade e de conhecimento sobre esse tipo de tratamento, menos invasivo, contribui cada vez mais para que os pacientes se sintam com medo e constrangidos para buscar ajuda, aumentando ainda mais a incidência da doença. O tabu que cerca a patologia está, muitas vezes, relacionado às consequências geradas pela cirurgia convencional, como possíveis impotência sexual e incontinência urinária que levam a adiar a busca por ajuda.

Para a técnica em enfermagem, Aparecida Policarpo, que atua na área de tratamento do câncer de próstata em um hospital da rede pública em Congonhas (MG), o preconceito que cerca o assunto é enorme ainda hoje e a implementação desse tipo de tratamento tecnológico, menos invasivo, seria ideal para encorajar a busca por tratamento pelos homens. “A cirurgia convencional por ser invasiva, deixa os homens com medo. A palavra certa é ’medo’'. O homem tem medo de câncer de próstata devido ao medo da impotência sexual e da incontinência urinária, mas especialmente pela impotência sexual. Uma vez que sabemos que a cirurgia robótica é menos invasiva, ela permite ao paciente ter uma melhor qualidade de vida após o tratamento, então, é um sonho possível ter a implementação dessa nova tecnologia na rede pública de saúde.”

Ainda que a cirurgia tenha uma acessibilidade restrita, devido ao seu alto custo, já existem relatos de pacientes que passaram pelo procedimento robótico e hoje vivem bem e sem traumas.

Morador do município de Congonhas (MG), Valdecir Rodrigues, 56 anos, foi um dos pacientes que passou pelo tratamento do câncer de próstata e teve como auxílio a cirurgia robótica. Ele conta que descobriu a doença ainda em estágio inicial, durante uma consulta médica periódica em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), na qual foi realizado o exame para rastreamento do câncer de próstata em homens assintomáticos, conhecido como PSA. "O urologista, ao detectar o meu câncer em estágio inicial, me explicou que a cirurgia assistida por robô era um procedimento menos invasivo, ainda que não disponibilizado pelo SUS. Tive a curiosidade de procurar mais informações sobre o procedimento e descobri que meu plano de saúde não cobria o valor da cirurgia, que é de 28 mil reais. Optei pela realização da cirurgia e hoje me sinto muito bem, sem nenhuma sequela da operação.”

O futuro

Em Minas Gerais, o sonho da implementação desse tratamento tecnológico na rede pública de saúde ainda está distante da realidade. Para o médico uro-oncologista Eliney Faria, que atua no Instituto de Cirurgia Robótica e Uro-Oncologia (ICRON) em Belo Horizonte, é possível que a partir de políticas públicas de inserção desses projetos ao SUS, o procedimento robótico possa ser disponibilizado à todos.

A tendência é a cirurgia robótica chegar ao Sistema Único de Saúde, mesmo que não se saiba quando. O Ministério da Saúde oferece incentivos fiscais para projetos que utilizam a tecnologia robótica, pelos programas de Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi SUS) e Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), feitos por entidades credenciadas. Há também a campanha Ponto Próstata que busca incluir o tratamento por meio da cirurgia robótica no SUS através da submissão capitaneada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).