Efeitos colaterais assustam a população de Betim, que ainda se recusa a reconhecer a eficácia da vacina

Conceição Maria de Campos teve AVC depois de tomar vacina CoronaVac e deixa familiares preocupados

Por: Érika Vicentini, Luan Filipe e Tailane Santos

Tomar ou não a vacina contra o coronavírus é uma decisão que preocupa muitas pessoas. Uma situação, na qual não deveria ser preciso pensar duas vezes, que se repete ao redor do Brasil, principalmente devido à onda de  informações imprecisas.

Marta de Campos Silva, moradora da cidade de Betim, Minas Gerais, compartilha desse medo. Sua mãe, Conceição Maria de Campos, está se recuperando de um acidente vascular cerebral (AVC), ocorrido em maio deste ano – 20 dias após ter tomado a segunda dose da CoronaVac. Ao levá-la para o hospital Odilon Behrens, em Belo Horizonte, um médico , com quem não conseguimos contato, afirmou que a enfermidade teria sido causada pela vacina, pois ele notou casos similares a este nos últimos dias com outros idosos. Atualmente, Marta também passou a fazer parte do grupo de risco da Covid-19, em razão de estar tratando de um câncer de mama – recém-erradicado, mas ainda em processo de radioterapia. Ela conta que, assim como seus irmãos, estava receosa em tomar a primeira dose, especialmente a CoronaVac. Quando foi chamada, ela só se permitiu receber a vacina da marca AstraZeneca Entretanto, ela relatou que o imunizante lhe causou reações fortes e persistentes, como dores intensas nas pernas e no restante do corpo por mais de três dias. Além disso, também contou ter dores no braço e febre, que já haviam sido pré-advertidas pelas campanhas de vacinação – devido ao seu estado de saúde já debilitado pelo tratamento contra o câncer. Histórias como a dela, quando não são observadas com o cuidado das especificidades, acabam corroborando com a desinformação da população e seu medo crescente a respeito das vacinas contra Covid-19.

Muitos questionamentos têm sido feitos em relação à segurança das medidas profiláticas, mas, a princípio, é preciso ressaltar que não existem estudos que liguem as vacinas da CoronaVac a casos de AVC e trombose. 

A existência de casos similares ao da senhora Conceição, como o médico afirma ter notado – sem ter feito um estudo aprofundado, nem ter sujeitado a situação a um grupo de controle ou um processo de pesquisa científica que valide a afirmação, apenas uma observação aleatória –, não serve para provar que a CoronaVac está causando AVCs, pelo fato de que outras doenças não deixaram de acontecer durante a pandemia. Em um período comum antes de 2020, por exemplo, não seria inusitado aparecer em um hospital, em uma mesma semana, mais de um idoso com a mesma enfermidade, não viral ou infecciosa. Como a vacinação está ocorrendo por faixa etária, também não é incomum aparecerem pessoas, de idades próximas, com quadros parecidos – enfatizando: casos não infecciosos ou virais – após tomarem a vacina que lhes foi indicada, como percebido após conversa com profissionais da saúde de Santa Bárbara, Minas Gerais. Ademais, a filha também afirmou que Conceição Campos é uma pessoa sedentária e precisava passar muito tempo em repouso, com problemas de má circulação sanguínea, além de ter predisposição ao desenvolvimento de trombose. Comorbidades como essas não podem ser ignoradas, pois elas podem favorecer o desenvolvimento de outras doenças, de acordo com as mesmas profissionais que conversamos.

Indo mais a fundo, a doutora em Ciências Biológicas, mestre em Ciências Farmacêuticas e farmacêutica Industrial, Liliam Teixeira Oliveira, esclareceu algumas dúvidas e ajudou na busca por respostas para as principais dúvidas que vêm assombrando a cabeça dos brasileiros: As vacinas são confiáveis por terem sido desenvolvidas e distribuídas para aplicação em tão pouco tempo? Os efeitos colaterais podem ser nocivos? 

Oliveira explicou que já havia no mercado uma grande disponibilidade de estudos e modos de produção de vacinas convencionais, além de pesquisas inovadoras que já estavam em andamento, como a terapia gênica para tratamento de cânceres. Logo, a etapa inicial era descobrir com quais partes do vírus da Covid-19 as vacinas deveriam trabalhar para gerar uma resposta imune do corpo. A segunda etapa seria conseguir reunir os insumos para a produção em nível global, o que só foi possível pelo investimento de diversos países e multinacionais ao redor do mundo. Assim, com tantos grupos trabalhando ao mesmo tempo, foi possível reduzir significativamente o tempo de pesquisa. No entanto, o período de fiscalização e verificação da eficácia a partir de um grupo controle e outro de placebos, em humanos, seguiram todas as etapas corretamente, passando pela aprovação de agências regulatórias como o Food and Drug Administration (FDA - Órgão americano responsável pela segurança sanitária e alimentar) e pela própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por isso, o fator tempo não é um motivo para se desconfiar da vacina.

Quando é dito que a vacina passou por todas as medidas de segurança para serem aprovadas, logo vem o questionamento quanto à eficácia delas, devido à variedade de marcas e porcentagens. Abaixo está uma tabela com as vacinas que estão sendo atualmente utilizadas para vacinação no Brasil:

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Fonte: Ministério da Saúde. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/paf/coronavirus/vacinas

Em relação aos efeitos colaterais, conversamos com o médico João Floresta Neto, diretor clínico da Santa Casa Nossa Senhora das Mercês, na cidade de Santa Bárbara, Minas Gerais. Ele nos contou que reações graves, que podem gerar a morte, não são comuns, não tendo ele visto nenhum caso. Os efeitos colaterais mais notificados são dores no corpo, na cabeça, diarréia, dores do braço e cansaço.

Esses sintomas foram confirmados por Liliam Oliveira, que ao ser questionada se até mesmo os excipientes poderiam causar efeitos colaterais mais graves, por exemplo, se os sais utilizados como tamponantes no produto poderiam causar alteração na pressão arterial, respondeu negativamente. “Os sais adicionados possuem um limite [...] Nosso sangue tem valores aceitáveis de osmolaridade (valor de pressão que um sal adiciona a uma solução), [...] e os sais que a gente adiciona em todo produto farmacêutico vai ter que estar dentro daquele espaço aceitável”, contou a doutora. Ela complementou dizendo que todos os excipientes e aditivos têm suas taxas verificadas pelas agências regulatórias, e que os efeitos colaterais são completamente relativos à resposta imune do corpo. Na CoronaVac, por exemplo, existem aditivos que podem funcionar como um potencializador para aumentar a resposta imune.

Ou seja, as dores, febres e outros, são alguns dos sinais de que seu corpo está reagindo à vacina. Cada sistema imunológico responde de acordo com o estado de saúde do indivíduo e é isso que vai determinar a intensidade dos efeitos colaterais. Logo, não se tem comprovação científica de que a causa do AVC de Conceição tenha sido a vacina CoronaVac. Assim como outras sugestões de efeitos colaterais fora do comum, para serem validados, é preciso haver uma comprovação por meio de pesquisas profissionais e metódicas, pois quando se trata da saúde humana, diversos fatores devem ser observados para que se chegue a uma conclusão.