Moda sustentável e consumo consciente: por que adotá-los?

Cada vez mais populares, a moda sustentável e o consumo consciente são movimentos que buscam renovar a indústria da moda.

Por Bianca Febraio Parma

Cabides de um brechó

A indústria da moda é uma das que mais cresce anualmente, juntamente com a indústria tecnológica. Graças ao capitalismo e ao consumo desenfreado, surgiu uma tendência nas marcas e indústrias dessa área chamada fast fashion. Trata-se de um modelo de produção acelerado, que cria tendências momentâneas e que, com o constante lançamento de coleções, impulsiona as vendas. Porém, com o aumento dos movimentos para preservar o meio ambiente e a adoção de medidas menos prejudiciais ao nosso planeta, a indústria da moda também entrou na onda da sustentabilidade. Nesse cenário, surgiram  a moda sustentável e o consumo consciente.

 A moda sustentável é focada no modo produtivo tendo como um bom exemplo a chamada eco fashion que se utiliza de matéria-prima eco friendly, materiais “amigáveis” ao meio ambiente, de origem orgânica ou mesmo reutilizados. O biólogo Mateus Gonçalves de Abreu explica que “quando o material é de caráter orgânico, tem-se uma diminuição significativa nos números relacionados ao acúmulo de lixo”. Isto ocorre porque  esse tipo de material se decompõe mais rapidamente, agredindo menos meio ambiente.  “Outra solução muito viável e extremamente acessível é a reutilização (conhecida como upcycling) de parte do que seria descartado. As fibras têxteis, são um ótimo exemplo disso, pois menos de 1% delas é reaproveitada pela indústria de tecidos hoje em dia,” completou.

A marca de roupas Malí Brand  de Itápolis, criada em outubro de 2020 por Maria Lídia Leal, de 21 anos, se utiliza de materiais que fazem parte do movimento upcycling, pois as suas coleções são feitas a partir de retalhos e tecidos que seriam descartados. Esses tecidos são comprados com preço mais acessível e evitam o desperdício.

Outro exemplo de moda sustentável é o novo modelo produtivo adotado por algumas marcas menores, chamada de slow fashion. Ele se diferencia do fast fashion ao produzir peças em tempo menos acelerado. Além disso, “são peças de roupas com maior qualidade, maior durabilidade, versatilidade, preço mais justo, com produção local e mão de obra remunerada de forma mais justa,” explicou Maria Lídia Leal, que adota esse modelo produtivo em sua marca.

O consumo consciente é uma forma menos materialista de consumir em que se busca comprar apenas o necessário ou produtos já usados, mas que estejam em bom estado, além de evitar o descarte de peças, como forma de preservar o ambiente. A compra de roupas em brechós é um dos maiores exemplos de consumo consciente. A estudante Maria Eduarda Avansi, de 18 anos, de Itápolis, consome peças de brechós online e afirma que algumas de suas vantagens são o baixo custo e menor desperdício. Isto porque, muitas vezes, as roupas são descartadas sem uso e, com isso, há facilidade de acesso a peças de ótima qualidade.

O consumo consciente tem ganhado espaço nas redes sociais e se tornou ainda mais popular com a adesão desse modelo pelas chamadas influenciadoras digitais. A  produtora de moda Caroline Granström, de 31 anos, é uma delas e possui cerca de 90 mil seguidores em sua conta no Instagram (@carolgranstrom). Para ela, sempre foi muito natural o consumo consciente, sendo costume de sua família evitar o descarte de roupas. Seu acervo atual de roupas conta com peças  que já foram usadas por sua mãe, suas avós, além de roupas da sua adolescência.

“Se eu influenciar uma pessoa que seja, a rever seu modo de consumo e buscar mudanças, pra mim já é uma vitória! Porque essa pessoa vai ensinar para outra pessoa, que vai ensinar pra outra, e assim por diante, criando uma rede de discussão sobre o assunto,” defendeu Caroline.

A empresária Vanessa Pires Barbosa, de 26 anos, dona de um brechó online (@dasgarotasbrecho), diz que acredita ter ocorrido uma mudança de comportamento em relação aos brechós, que estão sendo cada vez mais aceitos. “Acredito que a conscientização em torno da sustentabilidade e da reutilização ajudou muito, pois grande parte das pessoas estão pensando um pouco mais no meio ambiente, e em como a fabricação de cada peça de roupa agride o nosso planeta. E, a partir disso, eu percebi que mais gente foi abrindo a mente e mudando a forma de pensar sobre os brechós, não vendo apenas como uma loja de coisas velhas”, afirmou.

Por que evitar o fast fashion:

O fast fashion é responsável pelo descarte de cerca de 170 mil toneladas de lixo têxtil em desterros, anualmente. Essa quantidade de lixo é responsável por grande parte das emissões de carbono, entre outros problemas ambientais. O biólogo Mateus explica alguns dos problemas causados pela  grande quantidade de lixo têxtil descartado. “Como se sabe, o planeta Terra é uma fonte finita de recursos naturais, os quais são essenciais para a nossa sobrevivência. O chamado ‘fast fashion’ é algo que tem uma imensa responsabilidade diante da gigante degradação desses recursos. Temos que levar em consideração que o lixo têxtil demora em média um ano para se decompor completamente. Se essa tendência aumentar, chegaremos ao ponto em que o planeta será uma imensa esfera coberta por lixo, flutuando no espaço. E essa é uma estimativa que considera somente o lixo têxtil, sem levar em conta as outras categorias de descarte feitas pelo homem, como o plástico, por exemplo”.

Outro problema ambiental refere-se à produção de matéria prima para essas indústrias que possuem grande demanda. A produção de algodão no mundo é voltada principalmente para esse nicho e, para manter as demandas da produção têxtil, produtores rurais utilizam grandes quantidades de agrotóxicos nas plantações que, segundo Mateus, “quebram” a composição química nutritiva do solo que demorou milhões de anos para ser construída, afetando a vegetação e a fauna local.

Apesar de beneficiar o meio ambiente, a moda sustentável ainda não é capaz de dominar o mercado consumidor. Pois poucas são as marcas que a adotam atualmente e, além disso, ainda não são capazes de competir com grandes marcas que estão há anos no mercado e adotam o fast fashion.

Conheça marcas sustentáveis:

    Flavia Aranha: marca paulista, famosa por ter 50% de suas matérias primas orgânicas, além de técnica de tingimento de tecidos que se utiliza de corantes naturais.

    Envido: marca gaúcha que busca unir sustentabilidade com design; sua produção é feita a partir de tecidos biodegradáveis, orgânicos ou reciclados.

Malí Brand: marca do interior paulista, adota o modelo slow fashion de produção.

Dicas de brechós online para adotar o consumo consciente:

    Brechó Gato Preto: possui loja física na Rua Augusta, em São Paulo, mas também possui um site online.

    Enjoei: loja online onde garotas de todo o Brasil postam seus desapegos.