O Espaço Prainha e sua influência na vida da comunidade do bairro Santo Antônio

Por: Eliade Lisboa e Laene Andreata  

 

Iniciativa contribuiu para que jovens moradores criassem projeto social com o objetivo  de promover leitura, educação e cultura.

          

O Bairro Santo Antônio, mais conhecido como Prainha, foi o primeiro de Minas Gerais. Responsável por abrigar a Capela Bandeirantes de Nossa Senhora do Carmo, onde foi realizada a missa primaz no Estado mineiro. O Ribeirão do Carmo, rio que pode ser visualizado logo na entrada do bairro, recebeu tal denominação em decorrência da existência da capela já mencionada. O canal fluvial chamava atenção de bandeirantes garimpeiros no século XVI, devido a sua grande quantidade de ouro. Tal fator foi determinante no aumento populacional do período, entretanto, a localidade não abrigava os detentores do mineral, a elite viva no centro de Mariana, situado relativamente próximo ao bairro. 

 

PLACA SANTO ANTONIONa chegada do bairro, placa de madeira se mistura com verde da vegetação,bastante presente. Foto: Laene Andreata

 

Apesar de ser primeiro em existência, o Prainha não recebe a mesma prioridade no que se refere à infraestrutura e recursos fundamentais para a vida dos moradores que ali habitam. A comunidade carece de uma rede de saneamento básico, segurança, assistência médica, educação de qualidade, entre outros insumos. Descendo o morro do bairro São Gonçalo,  que separa o Santo Antônio do Centro, podemos observar crianças brincando e correndo pelas ruas, fator que pode oferecer perigo para elas, uma vez que a violência pode atingi-las com maior facilidade. Nesse sentido, a criação de um projeto que pudesse tirar essas crianças, adolescentes e jovens das ruas do bairro e levá-los aos caminhos do conhecimento, lazer e aprendizado, seria de grande auxílio.  

 

RIBEIRAO DO RIO CARMOVista do bairro; à esquerda da foto, algumas moradias se encontram com o Ribeirão do Rio Carmo. Foto: Laene Andreata

Como surgiu

 

Desta maneira, sob a iniciativa do Instituto Elos, em parceria com a Fundação Renova foi criado um projeto denominado “O futuro do Rio Doce somos nós”. A iniciativa tinha como objetivo respaldar a população que habita regiões ao longo da Bacia do Rio Doce, uma vez que estas pessoas sofrem, até os dias atuais, com as consequências da queda da barragem de Fundão, das empresas Samarco, Vale e BHP Billiton, em 5 de novembro de 2015, em Mariana. 

 

O projeto selecionou cerca de 90 jovens, moradores de localidades que compreendem a nascente, o médio curso e a foz do rio, sendo 30 deles moradores de Mariana, para que pudessem conhecer algumas comunidades carentes do território e auxiliá-las. Para isso, foi proposta uma ação, denominada pelo Elos de Oásis, a ser realizada em vários bairros marianenses, dentre eles o Santo Antônio. Para o Oásis Santo Antônio foram selecionados os jovens Polyana, Yuri, Deysimara e Welisson, que, em conjunto, deveriam conhecer toda a comunidade, descobrir um sonho desta e realizá-lo. “Um dos sonhos da comunidade era montar um parquinho e revitalizar o rio, aí nós fizemos isso”, contou Polyana Dutra, 22 anos, estudante do curso de Letras da Universidade Federal de OUro Preto (Ufop). 

 

Por meio de um edital, criado pela Fundação Renova, os jovens participantes puderam apresentar projetos que desenvolveram ao longo do Oásis, estes seriam analisados por uma banca. Dos 23 projetos de “O futuro do Rio Doce somos nós”, o Espaço Prainha foi um dos contemplados com R$ 6 mil pelo edital. Com a quantia recebida, doações e mutirões realizados pelos membros do Espaço, juntamente a alguns moradores, o local onde se localizava a antiga Casa da Sopa do bairro, pôde ser reformado, recebendo uma nova função e nome. O plano idealizado na mente dos quatro jovens ganhava forma física, podendo, a partir de então, seguir com tudo aquilo que idealizaram. 

 

Fazendo a diferença

 

Em março de 2019 ocorreu o primeiro mutirão do Espaço Prainha. Segundo Natália Lucatelli, 23 anos, também estudante de Letras da Ufop, que se tornou parte do grupo desde esse dia, em torno de 28 pessoas participaram da ação. “No primeiro mutirão a gente pintou lá fora, fizemos a fachada, algumas pessoas cuidaram da hortinha, localizada dentro da escola ao lado. Fizemos um serviço de pedreiro mesmo, mexemos até com cimento”, relatou a estudante. Houve ainda outros dois mutirões, o segundo foi voltado para a organização interna da biblioteca, uma vez que haviam recebido uma doação de 825 livros da artista plástica, poeta, licenciada em Letras pela Ufop, bacharel em Estudos Literários e pós-graduanda em Artes Visuais, Andreia Donadon Leal. Já no terceiro, Natália nos conta que a comunidade auxiliou na pintura de uma das salas do local, além da  plantação de mudas no jardim da frente. 

 

BIBLIOTECA ESPAÇO PRAINHA

Biblioteca localizada dentro do Espaço Prainha, criada por meio das doações de Andreia Donadon . Foto: Laene Andreata

 

 

ARTESANATO RECICLATO SR UILSON

Artesanato feito de material reciclado produzido em oficina orientada por Uilson Silva, coordenador do projeto. Foto: Laene Andreata.

 

Dentre alguns dos projetos que o Espaço Prainha pôde trazer para a comunidade destaca-se o Festival de Inverno. Este trouxe diversas atividades para a população do bairro como o brechó beneficente e a oficina Sarau de Versos que ocorreu no Instituto de Ciências Aplicada da Ufop, para os alunos do Santo Antônio. Servindo como uma porta de entrada para comunidade, foi graças ao Espaço Prainha e a parceria com o Projeto Alferes que uma das caravanas do Festival de Inverno de 2019 conseguiu entrar na comunidade e presentear a população com apresentações, em sua maioria, feitas por cantores que fazem parte do grupo comum em questão. 

 

Outros festivais como o Cambia Festival, que trouxe diversas oficinas como pintura e brincadeiras, os mutirões junto a população para a revitalização do Rio Carmo, da Casa da Sopa e do Espaço Cultural Sorriso são poucos exemplos do essencial trabalho que o projeto vem oferecendo, dando visibilidade para que muitas pessoas conheçam e façam a diferença na comunidade. 

 

 

MENINA COM A BOLA

 Criança em ação recreativa realizada no Espaço Prainha. Foto: Laene Andreata

 

Apesar de tantos eventos que já ocorreram, o Espaço continua não sendo muito conhecido pelos moradores da região. Durante conversas com pessoas nas ruas de Santo Antônio, era notável a desinformação sobre o projeto. Suas ações, no entanto, eram reconhecidas por muitos moradores, que não sabiam sobre terem sido realizadas graças ao Espaço Prainha. Polyana Dutra destaca como algumas pessoas têm a dificuldade de dissociar o Espaço Prainha em relação à Escola Municipal Wilson Pimenta Ferreira por funcionarem lado a lado. "Como o Espaço é do lado da escola ninguém associa o Espaço Prainha ao Espaço Prainha, associam a escola", comentou, ao falar como o projeto tem afetado muito mais as crianças do que adultos. 

 

Serviço

 

O Espaço Prainha não espera sua inauguração para fazer a diferença. Apesar de a abertura oficial não ter ocorrido e estar prevista apenas para o ano de 2020, o projeto continua trazendo muitas atividades para toda a comunidade. Aceita doações e não tem fins lucrativos. Você pode participar e ajudar a continuar realizando os sonhos da comunidade. Fica localizado na Rua Belo Horizonte, no bairro Santo Antônio, Mariana. E em suas redes sociais é possível ver todas as atividades futuras e como participar. Não perca a chance de fazer parte dos eventos e contribuir para o futuro de um bairro tão especial para toda Minas Gerais.