Partiu ir de bike: será possível haver ciclovias em Mariana?

Diversas pessoas optam pelas bicicletas devido à praticidade de se deslocar para todos os lugares, sem ficar preso por horas no trânsito e ainda economizar dinheiro do combustível ou da passagem de ônibus

Por: Vitoria lopes gomes 

politica de acessibilidade: 4 pessoas pedalando, todas estão equipadas com equipamentos de segurança, capacete e tornozeleiras.

As cidades históricas, mesmo aquelas tombadas e preservadas pelo Governo Federal, se adaptam a partir do momento que a sociedade está evoluindo junto. Em Mariana, as ruas são estreitas e as calçadas curtas, pois a demanda da cidade nos séculos passados era outra. Segundo, João Paulo Martins, de 39 anos, chefe substituto do escritório técnico de Mariana (ETM) diz: “Não significa que os calçamentos de hoje são os mesmos do período colonial, a maioria, inclusive, já foi alterada, sequer existia um passeio antigamente, houve várias adaptações”. E nos últimos anos o número de veículos no município subiu de 7.927 em 2002, para 28.758 em 2019, segundo Eliabe Freitas, diretor do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), um aumento de 263%. Acaba tendo muito congestionamento nas ruas estreitas principalmente nos horários de pico.

 

A necessidade de investir em mobilidade urbana tem sido discutida há décadas. Diversas pesquisas mostram que incentivar o uso das bicicletas é primordial para o desenvolvimento das cidades. Elas ocupam pouco espaço, não poluem o meio ambiente, desafogam o trânsito local e beneficiam os ciclistas, que realizam uma atividade esportiva.

 

De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 7% dos brasileiros usam a bicicleta como meio de transporte principal, tendo em vista que a bike é o meio de transporte que mais beneficia a saúde, segundo um trabalho feito pelo Instituto de Saúde Global Barcelona (ISGlobal). Utilizar a bicicleta no dia a dia se torna um importante meio de locomoção para a sociedade e um ótimo meio sustentável.

 

Uma opção seria implementar ciclovias em espaços públicos em Mariana, para melhor mobilidade urbana e trazendo mais segurança aos ciclistas na cidade. Porém, o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Christiano Ottoni, de 50 anos, que atua na área de planejamento Urbano e Regional do curso de Engenharia Urbana explica: “É uma possibilidade muito premente, no ponto de visto técnico, a ciclovia iria dividir espaço o leito carroçável, principalmente em uma cidade que o leito é muito estreito, não tem condições de ter, o passeio mal dá para andar, quanto mais colocar ciclovias, além das ruas serem tombadas”. Então, mesmo se houvesse uma possibilidade de implementação das ciclovias na cidade, seria algo dificilmente concretizado, pois há inúmeros fatores que dificultam o feito. “Mesmo no lugar que tenha a possibilidade de implantar uma ciclovia, a questão técnica pega, pois você precisa segregar a ciclovia, pintar o chão e uma série de outros fatores”. -Christiano Ottoni, Urbanista.

 

Em junho de 2021, o prefeito de Mariana, Juliano Duarte, postou em suas redes sociais um novo projeto com intuito de construir uma ciclovia ligando Mariana a Furquim (MG), que é um distrito da cidade. “A medida atende uma demanda crescente em nossa cidade, além de ser um meio de transporte totalmente sustentável, que reflete positivamente em toda população, os espaços para a circulação de bicicletas devem ser construídos para levar segurança aos praticantes” disse no post. Além dos ciclistas, pedestres e motoristas também iriam se beneficiar tendo em vista que o número de veículos nas ruas iria diminuir, uma vez que o uso de bicicletas seria estimulado, acredita o prefeito. Em contato com o prefeito em sua página do Instagram sobre que fim se deu o projeto de lei Nº 1649/2021, ele informou que o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) solicitou a concessão do projeto e ela não foi aprovada.

 

Segurança dos ciclistas

 

Na Rodovia dos Inconfidentes no bairro Vila do Carmo, em Mariana, ciclistas pedalam ao lado de veículos maiores, como ônibus e caminhões que estão em alta velocidade, sem nenhuma sinalização, ou melhores condições para eles. Isaias Monteiro, de 25 anos, que trabalha na loja “Bike Sports", uma oficina especializada em bicicletas na Rua do Catete, afirma que para melhorar a segurança dos ciclistas, “é necessário haver uma conscientização de quem anda de bicicleta e das pessoas que se locomovem com o carro, prestar mais atenção, respeitar mais o ciclista, para não ocorrer acidentes, que é algo bem difícil de acontecer se tiver cautela”.

 

Quem gosta de andar de bicicleta sabe que sempre existe risco de queda ou acidente. Por isso, é essencial que o prazer de pedalar venha acompanhado de uma série de cuidados para garantir a segurança dos ciclistas. Afinal, é importante garantir segurança dos ciclistas e dos demais que estão em volta. Ter alguns cuidados como respeitar a sinalização de trânsito, utilizar equipamentos de segurança como o capacete etc, é necessário para um bom convívio entre ciclistas e motoristas.

 

Bicicletários

 

Em busca da melhoria da mobilidade urbana, o prefeito de Mariana inseriu em junho de 2021 seis novos bicicletários. Os pontos para estacionar as bicicletas estão localizados na Prefeitura, Terminal Turístico, Rua dos Bancos (ao lado da Caixa), Praça Gomes Freire, Arena Mariana e Centro de Convenções. Segundo o prefeito de Mariana, a iniciativa se deu por uma demanda na comunidade. "O número de bicicletas aumentou em todos os municípios. Aqui em Mariana temos diversas provas com as bikes, então achamos que seria benéfico para os marianenses a instalação dos bicicletários", afirmou.

 

É comum ver que a população não usufrui desse benefício com frequência, geralmente é notório ver bicicletas amarradas em postes públicos ao longo da cidade ao invés do local indicado, uma vez que desta maneira pode ser mais prático para os moradores. João Bosco, que usa a bicicleta todos os dias, diz que é mais prático colocar a bicicleta sempre onde ele estiver porque assim tem uma maior facilidade de buscá-la, e acaba andando menos.

 

há um bicicletário com uma bicicleta estacionada, no canto inferior está escrito “ BICICLETÁRIO PUBLICO”

 

A foto foi tirada na praça Tancredo Neves, em horário de pico da cidade, quando há um maior número de pessoas se locomovendo na rua. E há apenas uma bicicleta no local adequado. Eliege Walter, 33 anos, atleta de MTB (mountain bike), vai trabalhar de bicicleta todos os dias e diz que não utiliza os bicicletários da cidade, pois não tem confiança de deixar a bicicleta dando bobeira. "Apesar de em Mariana não haver muito assalto, não tenho confiança em deixar minha bike na rua, tenho medo de ser assaltada, por ela ter um valor muito alto”.

 

Iphan

 

Para a otimização da questão da mobilidade em cidades históricas, o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) criou o Programa Nacional de Mobilidade em Áreas Tombadas, por meio da Portaria número 623, de 8 de outubro de 2015. Com objetivo de manter as características de um centro histórico tombado pelo patrimônio cultural, e ao mesmo tempo garantir a modernidade, a qualidade de vida e o acesso a todos os monumentos em cidades históricas no Brasil. O programa buscou propor novas bases práticas e conceituais à otimização da questão da mobilidade em cidades históricas. Como forma de dar corpo a essas ações, o programa baseou-se em três ações estratégicas:

 

1) Elaboração de projetos pilotos em cidades ou conjuntos urbanos tombados;

2) Promoção do Encontro Nacional de Mobilidade Urbana em Áreas Tombadas;

3) Elaboração de um Caderno de Referências sobre o tema.

 

A ilustração abaixo é um exemplo representativo de como seria uma ciclovia em cidades históricas, em Laguna (SC).

 

Proposta de melhoria urbanistica 2011. acervo Iphan

 

Foi elaborado um novo projeto de lei que está para ser votado na Câmara dos Vereadores de Mariana nos próximos dias, que trata da implantação de rotas cicloviárias na cidade. "Dependendo da demanda da população, se entendermos que isso de fato é uma necessidade importante na cidade, podemos pensar em trechos”, diz João Paulo, chefe substituto do Iphan em Mariana. 

 

Ele também salienta que “a questão do patrimônio vem para preservar a cidade e não tornar a cidade pior ou parada no tempo, se em questão de preservação do patrimônio, houver qualquer tipo de intervenção, ao ponto de impossibilitar que alguém possui dificuldade de locomoção, na verdade esse patrimônio não está prestando sua função social”. João também esclarece a possibilidade e necessidade para haver ciclovias em Mariana “em tese isso é possível, mas precisa passar por análises, pensar se há uma necessidade de fato, convencer as pessoas de forma coletiva para usarem a bicicleta e deixar o carro em casa, é uma luta difícil, não há garantia de vitória, mas as conquistas urbanas de alguma forma todas passam por isso”. O Iphan em primeiro momento não parte do pressuposto de que não poderia haver ciclovias, a discussão é como e onde ela irá ser implementada, e quais as melhores soluções para ter a ciclovia. A proposta precisa ser analisada, estudada, e ver qual a melhor viabilidade de visão técnica precisa ser feita.