Pesquisa comprova a ineficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19

Resultado faz parte do estudo realizado em 8 municípios mineiros, entre eles, Ouro Preto, com participação de pesquisadores da Ufop e de voluntários em fase inicial da doença.

Por: Jahi Amani

(Imagem Ilustrativa - Racool Studio)

Um estudo internacional, com participação de professores da Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), testou a eficácia de medicamentos no tratamento de infectados pela Covid-19, em estado leve, e descartou o uso da Hidroxicloroquina e do Lopinavir/Ritonavir no atendimento inicial aos doentes. No Brasil, o estudo acontece apenas em Minas Gerais e é coordenado pela Pontifícia Universidade Católica  (PUC Minas),  tendo sido aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Uma das unidades, entre os oito municípios mineiros envolvidos, é a de Ouro Preto, tendo os procedimentos de pesquisa junto a voluntários realizados por meio da Ufop, desde 2020, e sem data de término prevista. Os resultados iniciais apontados pelo estudo podem ajudar a diminuir os casos de internação e agravamento do quadro de saúde dos infectados pela Covid-19, ajudando a reduzir  a sobrecarga sobre o sistema de saúde.

A pesquisa de campo está sendo realizada com pacientes que procuram o setor de atendimento da Covid na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ouro Preto e que preencham alguns dos critérios de inclusão na pesquisa, tais como, ser hipertenso, diabético, asmático, obeso, dentre outros. Os pacientes qualificados a participar são convidados pela equipe e, caso aceitem, recebem acompanhamento médico especial, além da medicação testada no estudo. Nesse tipo de estudo, o paciente não sabe exatamente qual medicação será tomada, para que tal conhecimento não influencie no seu tratamento. Apenas os analistas da pesquisa têm acesso a essas informações e todo o processo ocorre de forma gratuita para os pacientes.

Intitulado “Fluvoxamina, Ivermectina e Doxazosina para melhora da saúde das pessoas com COVID-19 - ‘Coalizão Juntos_2’”, o estudo faz parte do ensaio clínico “TOGETHER Trial”, que é uma pesquisa internacional e multi-institucional realizada desde 2020, com financiamento da Bill & Melinda Gates Foundation, da Fast Grants e da Rainwater Charitable Foundation. Ele conta também com a participação da McMaster University e da Universidade de Ottawa, ambas do Canadá; Cytel Inc. de Cambridge (EUA); PUC Minas e Ufop, do Brasil.

A participação da Ufop no estudo se deu pelo convite do coordenador nacional do ensaio clínico, Dr. Gilmur Reis, da PUC Minas, e, após o aceite, foi acordado com o município de Ouro Preto,  por meio de uma carta de anuência, tendo  a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa local. O coordenador do estudo na Ufop, professor Dr. Leonardo Cançado Monteiro Savassi, do Departamento de Medicina de Família, Saúde Mental e Coletiva, da Escola de Medicina, explicou sobre a equipe envolvida, o funcionamento das atividades e os resultados em análise.

Segundo ele, que também é coordenador do Mestrado Profissional em Saúde da Família (PROFSAUDE), a equipe é formada por um médico e uma enfermeira-chefe, dois acadêmicos no centro de apoio e mais acadêmicos de campo. Ele também afirma que a pesquisa segue atualmente sem enfrentar dificuldades, mas que há possibilidade de sofrer impacto do processo de vacinação nacional, no futuro, já que ela é realizada apenas com infectados pela Covid-19. “Provavelmente a vacinação vai impactar, sim, reduzindo o número de casos.” E, sobre a inclusão de pessoas já vacinadas e mesmo assim infectadas pelo vírus, ele diz que “há critérios de inclusão e exclusão relacionados a ser vacinado.” 

E agora?!

Os resultados iniciais do estudo já foram publicados e seguem sendo divulgados, à medida que as informações forem apuradas e comprovadas pelos especialistas envolvidos, como a ineficácia da Hidroxicloroquina, Lopinavir/Ritonavir e do não resultado da Metformina no tratamento da Covid-19. O Dr. Savassi informou também que já existem outros resultados em análise, em nível mundial, de uma medicação promissora no tratamento da doença e que, assim que comprovados os resultados finais, as informações serão publicadas em revistas científicas, com avaliação por pares, para então serem divulgadas ao público.

Uma das estudantes integrante da equipe, a acadêmica do 9° período do curso de Medicina da Ufop, Marina E. Santos, contou sobre o processo de atuação na UPA de Ouro Preto, onde são recrutados os voluntários para o estudo. Ao concordar em participar da pesquisa, o paciente com sintomas leves da doença e que se enquadra nos critérios do estudo é informado sobre os procedimentos, os benefícios e riscos, e assina um termo de consentimento. “Alguma dificuldade sempre tem. Uns pacientes ficam receosos por não saberem qual substância estão recebendo (se placebo, se medicamento, qual o medicamento), outros pacientes são hostis. Mas, no geral, nosso convite é muito bem recebido e, nesses meses de atuação, conseguimos captar um número considerável de participantes no nosso estudo”, diz Marina. Há um limite de participantes, como conta o coordenador Dr. Savassi: “Na última amostra eram, salvo engano, 1,8 mil, mas isso é calculado pelos estatísticos para definir qual amostra seria significativa.” As atividades continuarão  sendo realizadas pela equipe em Ouro Preto até o fim da pandemia, assim como em Governador Valadares, Montes Claros, Sete Lagoas, Lagoa Santa, Nova Lima, Betim e Ibirité, que estão entre os municípios que participam da pesquisa.