Progresso e mudança para os contagenses

A implementação do SIM é a grande aposta para a melhoria na mobilidade urbana da cidade

Por: Evelin Almeida 

Imagem ilustrativa. Fonte: https://br.freepik.com/home

 

 

 

Contagem, a cidade das abóboras, lugar conhecido pelas carroças e cavalos, aos poucos se transforma e abre espaço para um novo modal viário e urbano, com preparação para uma significativa mudança no cenário do transporte. O pequeno povoado que surgiu no século XVIII aos arredores de postos de registros para fazer a contagem de gado, de mercadorias e de escravos, mais de três séculos depois tem um grande desenvolvimento populacional e econômico que demanda uma intervenção desse porte.

A implementação do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM) em Contagem compreende um plano de intervenções no transporte coletivo, na infraestrutura urbana e viária, com o objetivo de facilitar o acesso ao transporte dos usuários. O planejamento do programa possui cinco terminais de integração, três corredores interligando os pontos principais da cidade - leste, oeste, norte, sul e central - e as estações de transferência, presentes apenas no corredor Norte-Sul, com 20km de extensão. Os outros dois corredores são o Leste-Oeste, com 11 km de extensão, que vai ligar o bairro Petrolândia ao bairro Ressaca; e o corredor Ressaca, com 9 km de extensão, vai ligar o bairro Ressaca à Cidade Industrial, em Contagem.

O conjunto de obras do novo programa teve início em 2019, no mandato do ex-prefeito Alex de Freitas (sem partido), mas em alguns locais - na Avenida João César de Oliveira, pertencente ao Corredor Norte-Sul, com as estações de transferência em construção, e as obras no Viaduto Teleférico no bairro Água Branca, pertencente ao Corredor Ressaca - foram paralisadas na metade de 2020 por desistência do contrato da empreiteira então responsável.

A prefeita Marília Campos (PT/MG), que assumiu o cargo em 2021, mobilizou um novo planejamento de execução para as obras paralisadas,  no  “DECRETO Nº 248, DE 22 DE JULHO DE 2021”  que integra a Unidade de Gerenciamento do Programa de Mobilidade Urbana, para assumir, coordenar e dar continuidade nos projetos do SIM.

Contagem possui atualmente uma população estimada, segundo dados do IBGE, de 673.849 pessoas. E um deslocamento diário de 100 mil viagens/dia, em média, saindo de Contagem, contabilizadas até maio de 2021 pelo programa “Matriz Origem-Destino” da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

André Guerra, mestre em Geotecnia e Transportes pela Universidade Federal de Minas Gerais (Ufmg), com MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas, atualmente é professor do Departamento de Engenharia de Transportes no Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-MG. Ele explica sobre sua experiência com o modelo de operação de Belo Horizonte, MOVE, e aponta alguns problemas que podem interferir no sistema em Contagem: “No meu ponto de vista, o principal problema está na falta de integração entre os serviços metropolitano e municipal, o que resulta em perda de eficiência ao sistema como um todo e de qualidade ao usuário. Um dos grandes problemas é que quem vem de outro município para Belo Horizonte não é beneficiado por desconto tarifário quando troca de linhas entre os dois serviços”.

Para uma cidade com esse grande índice de deslocamento diário, a infraestrutura atual não comporta a quantidade de pessoas que saem principalmente em direção a Belo Horizonte. Não à toa é necessário um plano de ação para condizer com as demandas dos deslocamentos diários da população. No entanto, André pontua que, apesar dos desafios, “a redução dos tempos de viagem, devido à prioridade de circulação do transporte coletivo nos corredores; maior articulação entre as regiões da cidade, com a criação de terminais de integração; redução dos tempos de espera nos pontos de ônibus, principalmente na volta para casa com as linhas troncais de alta frequência”, configuram novos benefícios para os habitantes. 

Em direção ao futuro

Kamilla Teixeira, 21 anos, técnica em Farmácia, sai para o trabalho às 5h55 e só chega à estação metrô Eldorado às 6h40. Moradora do bairro Oitis, o caminho percorrido diariamente corresponde ao do Corredor Ressaca, que interliga os bairros da região leste de Contagem até a Cidade Industrial.

Com o sistema pronto e operando em condições normais, o tempo de seu deslocamento, de 45 minutos em média até o Eldorado, poderia ser diminuído quase à metade. Sua casa fica em frente à Avenida João Gomes Cardoso, que, incluída no plano, passou por intensa reforma pelo “Programa de Requalificação de Vias”, também incluído no projeto, para implantação do Corredor Ressaca com faixas preferenciais.

A construção do Viaduto Teleférico irá viabilizar a conexão com o Corredor Ressaca até a Cidade Industrial que, atualmente, possui seu único caminho pelo túnel do bairro Água Branca, interligando as duas regiões. Por isso é importante a conclusão das obras: “Quando tiver o acesso pelo viaduto, vai dar uma abertura melhor e não vai ter tantos engarrafamentos”, ressalta Kamilla. Ela conta que já ficou mais de duas horas dentro do ônibus no túnel.                                              

Além disso, no bairro onde mora há apenas duas opções de linhas para Contagem, o restante são rotas diretamente para Belo Horizonte. De acordo com Kamilla, o sistema auxiliará no tempo do trajeto pelo replanejamento da rota, tendo em vista a falta de linhas.

Na Região Sede em Contagem, no bairro Colonial, Lorena Weter, 21 anos, também técnica em Farmácia, sai para o trabalho às 5h40. E, apesar de percorrerem direções opostas, Lorena enfrenta problemas semelhantes aos de Kamilla. Assim que entra no coletivo, já não há mais lugar para sentar, está “lotado”. Além do tempo longo do trajeto que dura cerca de 50 minutos até o local onde embarca no segundo ônibus, a usuária reclama do quadro de horários reduzido da linha, chegando a intervalos de uma hora.

A região correspondente a seu trajeto é a do Corredor Norte-Sul, com as estações de transferência. Contudo, seu bairro faz parte do sistema alimentador para as linhas centrais, e só há uma opção de linha. Com a finalização das obras, a promessa é diminuir o tempo com o aumento no quadro de horários e a integração dos caminhos pelas faixas preferenciais.

Após mais de um ano de inatividade no canteiro de obras, a dúvida passou a ser recorrente no dia de Lorena, que comenta: "Se realmente for pra frente esse sistema, vai ser muito bom. A mudança de um ônibus para o outro, o tempo gasto para essa troca, é muito cansativo, então ter um transporte ligado direto a um lugar ajudaria muito”.

O que esperar do projeto

O momento atual do plano SIM segue com retomada das obras em todos os pontos incluídos, e há previsões de até um ano para entrega do Corredor Norte-Sul e do Viaduto Teleférico. Além do terminal Petrolândia já pronto, o restante dos terminais, Ressaca, Sede, Darcy Ribeiro e Eldorado, está em andamento, alguns em fase inicial, como o Sede, e outros em finalização, como o Ressaca. O Eldorado já se encontra pronto, mas precisa passar por reformas e manutenção.

Luís Castilho, diretor de Transportes da Autarquia Municipal de Trânsito e Transportes (TransCon), explica sobre os benefícios do programa para a população: “A implantação irá beneficiar o tráfego de ônibus, que transportam maior número de pessoas ocupando menor espaço físico das vias. Assim, o benefício de se criar faixas exclusivas, como as que serão criadas na Avenida João César de Oliveira, é beneficiar um maior número de pessoas com o aumento da velocidade operacional”. Além disso, serão dois sistemas de operação dos coletivos com faixas exclusivas e preferenciais, respectivamente, o Bus Rapid Transit (BRT) e o Bus Rapid Service (BRS).

No dia 11 de dezembro estive na Avenida João César de Oliveira, no ponto de construção das cabines de transferência do Corredor Norte-Sul, e acompanhei, na altura do Hospital Municipal de Contagem, o andamento das obras. A empresa que assumiu o contrato da licitação para a conclusão dos trechos paralisados, de acordo com o site da Prefeitura, afirmou estar cuidando do remanejamento da equipe e manutenção das peças danificadas pela ação do tempo, antes de iniciar os trabalhos ativamente. Era um dia de sábado, por isso não foi possível detectar intervenção no canteiro de obras.

No entanto, Humberto Weter, 29 anos, conta a respeito da movimentação das atividades no último mês, tendo em vista que passa frequentemente pelo local para ir trabalhar. Ele  afirma que “às vezes que eu passei lá, eu vi sim, mas pouquíssimo movimento. Apenas quatro pessoas, fazendo algo no canteiro de obras”. A TransCon não soube responder sobre a continuidade das obras reiniciadas em outubro, mas afirma: “Após a conclusão, o sistema estará em constante monitoramento e os ajustes necessários serão realizados pela Prefeitura de Contagem”.

As previsões para o projeto concluído seguem positivas para as pessoas que dependem diariamente do transporte público. O sistema promete ser um grande avanço para a cidade das abóboras.

Essa reportagem foi alterada em: 07/01