O "Fios de Solidariedade" completou sete anos e atua nas cidades de Ouro Preto e Mariana com ações gratuitas
Por: Samuel Ribeiro
Foto: https://www.instagram.com/fiosdesolidariedadeufop/
O Projeto “Fios de Solidariedade” foi criado pela Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto. O intuito principal é contemplar mulheres vítimas do câncer de mama e outras doenças nas quais ocorra a queda dos cabelos com perucas confeccionadas com fios de cabelo doados por voluntários. O primeiro passo da equipe foi coletar relatos de mulheres moradoras do bairro Bauxita, em Ouro Preto, que são vítimas do câncer de mama e outras doenças para que fosse possível um acolhimento de saúde e isso trouxesse de volta a autoestima da mulher.
Durante a pandemia, o projeto adotou um formato híbrido para a realização dos eventos que aconteciam presencialmente, mas que foram adaptados durante o mês de outubro de 2020 e 2021 de forma remota. O foco são as campanhas de prevenção contra o câncer de mama. Nesse formato, os voluntários do projeto se deslocam para salões parceiros e promovem lives no Instagram do projeto que transmite as diversas oficinas como as de promoção de cuidados, corte de cabelos gratuitos para doadores e entregas de perucas para pacientes do projeto que estão em tratamento, com direito até a música ao vivo.
As doações de cabelo
O Fios de Solidariedade solicita que pelo menos 20 cm de cabelo sejam doados pelos voluntários para a confecção de perucas em um dos salões parceiros ou até mesmo que o doador procure a Pró-reitoria de Extensão, em Ouro Preto, ou no ICSA, em Mariana, na secretaria da Diretoria, para realizar a doação. Flávia de Souza Alves, 35 anos, turismóloga, moradora de Ouro Preto e voluntária do projeto, explica como foi o processo de deixar o cabelo crescer até o momento da doação.
A ouropretana contou na entrevista que conheceu o projeto Fios de Solidariedade na UFOP durante a realização do evento “Campus Aberto”, em 2014, e que achava a iniciativa muito legal. Flávia explicou também que cortava seu cabelo de seis em seis meses devido a uma doença causada pela ansiedade chamada alopecia, que causa queda no cabelo. Por isso, precisou consultar sua cabeleireira para buscar um cronograma capilar e auxiliar no crescimento de seus fios para realizar a doação: “Estou há 10 anos com a mesma cabeleireira, pensei em doar no Outubro Rosa, mas em junho deste ano ele estava muito grande e dava muito trabalho para cuidar”, contou.
A voluntária destacou que dias depois de realizar a doação, ela contou a uma amiga sobre o ato e acabou recebendo mais doações de cabelo: “Recebi uma doação de uma amiga, foi o cabelo dela, do pai e da mãe, todo mundo entrando para a corrente”. Ela explicou que na sua visão o Fios é importante pois devolve a autoestima da mulher. Segundo ela, eles têm um grande cuidado com as pacientes. Flávia deseja fazer parte como voluntária no futuro e explica: “Existem diversas formas de participar do Fios, não só doando cabelo mas apoiando amigas a doar”.
Flávia Alves após a doação. Fonte: https://www.instagram.com/flasouzalves_
Mulheres contempladas
Letícia Rosa Tavares, 25 anos, estudante de Direito da UFOP e moradora de Ouro Preto, foi contemplada com uma prótese capilar em meados de setembro de 2020 num evento realizado no salão “Fino Trato Beth”, um dos parceiros do projeto. A estudante contou que tem uma doença chamada tricotilomania, que acarreta em queda de uma parte dos cabelos. Ela conheceu o projeto pela prima Elizabeth dos Santos, que é parceira e empresária de um salão de beleza em Ouro Preto.
A estudante enfatizou como foi o processo de aceitação antes e depois de se tornar paciente do Fios de Solidariedade e de ter recebido a prótese: “No início foi bastante difícil me aceitar e me acostumar, às vezes na rua as pessoas olhavam porque minha doença deixa o cabelo ralo”. Ao ser questionada sobre como o projeto a ajudou, ela disse que é uma explosão de sentimentos e que consegue notar a diferença: “Depois que você se acostuma é muito bom porque muda o jeito que você vê, melhora sua autoestima e sua relação com a doença”, ressaltou.
A ouropretana também destacou que as mulheres precisam estar com os exames em dia para prevenir doenças. Ela acha importante o cuidado com o bem estar e a própria saúde, pois hoje em dia andamos preocupados com diversas coisas e não temos conhecimento de certas doenças: “Eu achei muito interessante que na última live no salão de Beth foi falado sobre o câncer bucal, que muitas vezes a gente não pensa”.
A paciente Letícia Rosa com os parceiros do projeto no dia em que recebeu sua prótese. Foto: Elizabeth dos Santos.
ONG Fios de Luz
Criada em 2017, a ONG Fios de Luz está localizada em Belo Horizonte e está presente em 34 centros oncológicos em quatro estados brasileiros: Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Rio Grande do Sul e também no Distrito Federal. Edmilson de Oliveira, 53 anos e fundador da ONG, contou em que em 2008 abriu uma loja de cabelos na região de Venda Nova. Nesse período teve contato com uma paciente oncológica que o inspirou a fundar a ONG: “Ela me disse 'Ed, eu venci o câncer, aquilo foi o divisor de águas para mim'. Então viajei a São Paulo, comprei 80 kg de cabelo e pedi que fossem confeccionadas perucas”.
O fundador explicou também que a ONG é sem fins lucrativos e atende pacientes do Brasil inteiro com as perucas confeccionadas para as pacientes em tratamento. Para pacientes que não participam de nenhum projeto parceiro da ONG, Edmilson explicou como essas mulheres podem ser contempladas também: “Basta a paciente entrar em contato e solicitar com a assistente social apresentando o laudo médico, RG e comprovante que está em quimioterapia e receberá a peruca em qualquer parte do Brasil.”
Sobre a parceria com o Fios de Solidariedade, Edmilson destacou que ele foi convidado pela coordenadora Rosana Gonçalves para conhecer o projeto e achou incrível a iniciativa. Logo, por contrato, firmou uma parceria e construiu o Banco de Perucas. Sobre os fios doados ele explicou que os cabelos que são enviados pelo projeto não necessariamente voltarão para a mesma região pois a ONG atende a necessidade de cada parceiro.
Edmilson em um evento da ONG Fonte: ONG FIS DE LUZ.
Salões Parceiros
Elizabeth dos Santos tem 40 anos e é dona do salão “Fino Trato Beth Santos”, em Ouro Preto. Em entrevista ela disse como conheceu o projeto e porque decidiu se tornar uma parceira: “Fui convidada pela Rosana, na época era o Campus Aberto, aí eu abracei a causa, amo o trabalho que eu faço na Fios”. Ela explicou também que para a doação não é necessário nenhum procedimento, só precisa ter no mínimo 20 cm de cabelo. Também é preciso que o doador agende antes e o corte é gratuito, e no caso de menores de idade é preciso que estejam acompanhados dos responsáveis.
Fagner Adriano, proprietário e cabeleireiro do salão “Fio a Fio”, em Ouro Preto, contou que faz está no projeto há 4 anos e que foi convidado por voluntários. Segundo ele, não existe um tabu entre os homens para doar cabelo, mas acha encontrar homens a disposição devido a eles serem adeptos a usarem cortes mais curtos. Ele ainda disse que pretende continuar no projeto: “Geralmente os homens não deixam o cabelo crescer, mas não existe nenhum tabu’’.
Parceiros do projeto com a coordenadora Foto: Elizabeth Santos.
O projeto Fios de Solidariedade conta com mais de cinco salões parceiros nas regiões de Ouro Preto e Mariana. Para mulheres em tratamento oncológico ou outras doenças capilares que queiram ser contempladas com uma prótese ou para se tornar um doador entre em contato abaixo:
Instagram: www.instagram.com/fiosdesolidariedadeufop/
Email: fiosdesolidariedade.ufop@gmail.com – falaproex@gmail.com
Telefone: (31) 3551-1957