Setor cultural na pandemia: impactos e desafios sofridos pelos artistas no município de Congonhas

Os artistas da cidade de Congonhas, em Minas Gerais, contam sobre os desafios para a produção de eventos culturais durante a pandemia da Covid-19.

Por: Milena Carolina Reis Silva e Sara Lambert Pereira

Lives de eventos culturais

No Brasil, o setor de eventos culturais continua sendo um dos mais prejudicados durante a pandemia da Covid-19. Com isso, diversos artistas precisaram buscar alternativas para conseguir outras fontes de renda. Nessa perspectiva, o cenário de incertezas aumenta e a Lei Aldir Blanc (Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020) surgiu como uma importante forma de auxiliar esses profissionais, destinando ações emergenciais ao setor cultural durante o estado de calamidade. A lei prevê o repasse de R$ 3 bilhões a estados, municípios e ao Distrito Federal, para medidas de apoio e auxílio aos trabalhadores da cultura atingidos pela pandemia.

De acordo com a Secretaria de Cultura de Congonhas (MG), a Lei Aldir Blanc beneficiou cerca de 400 artistas, das mais variadas áreas de atuação. A cidade recebeu R$ 408 mil, valor que posteriormente foi distribuído aos artistas locais. Segundo o chefe de Departamento das Culturas Populares, José Junqueira, , esse valor foi repassado em sua totalidade. Ele conta que cada cidade estabelece sua forma de distribuir o dinheiro recebido pelo município, em Congonhas isso ocorreu a partir da criação de uma comissão com vários profissionais de diversas áreas da prefeitura que colaboraram para que o repasse ocorresse de forma efetiva.

Entretanto, para Alvinho Alves, 55 anos, músico na região há 25 anos, o valor de R$ 3 mil  recebido não foi suficiente. “Não deu nem pra fazer respirar”, afirma o cantor. Ele conta que precisou se reinventar nesse cenário e lidar com as incertezas trazidas pelo contexto pandêmico. “Tive que dar meus pulos, abri uma lojinha Lan House no bairro e fui vivendo com o pouco que entrava, fazia também alguns bicos”, menciona.

Mesmo contemplando diversos artistas na cidade de Congonhas, a divulgação sobre a Lei Aldir Blanc não chegou a todos. Mayara Rodrigues, 27 anos, foi uma das cantoras locais que não recebeu auxílio por motivo de desinformação. “Não consegui o benefício da Lei Aldir Blanc, creio que nenhum artista da nossa cidade foi contemplado”, afirma a cantora, demonstrando desconhecer a atuação da Lei no município.

A bailarina Natália Araújo, 24 anos, conta que no setor da dança o contexto de produção dos eventos artísticos também sofreu grande impacto, já que antes da pandemia seu sustento vinha unicamente de seu emprego como dançarina, fato que mudou com a chegada da Covid. Esse cenário fez com que ela precisasse procurar outros meios para se adaptar e se reinventar. Assim, ela conta que passou a participar de lives que eram transmitidas por escolas de dança. “Foi bem difícil no começo se adaptar à nova realidade, e tivemos uma queda muito grande do público que nos acompanhava”, revela Natália.

Os eventos teatrais, por serem realizados, geralmente, em ambientes fechados, com pouca circulação de ar e gerando aglomerações foram as primeiras produções interrompidas, no início da pandemia. Pesquisas realizadas pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) indicam que o setor de economia criativa no país, que inclui o teatro, contribui, diretamente, para cerca de 2,61% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Entretanto, o setor é composto, em grande parte, por micro e pequenas empresas e profissionais autônomos que não possuem capital de giro suficiente para suportar grandes períodos sem faturamento. Ao todo, 88,6% indicaram ter sofrido com queda do faturamento no período de pandemia.

Lives

Uma forma encontrada pelos músicos para se reinventarem durante este período foi a produção de lives e outros eventos através das redes sociais, com o intuito de manter o distanciamento social. Apesar de terem tomado grandes proporções em todo o país, a produção desses eventos de forma virtual não foi o suficiente para pequenos artistas se manterem financeiramente. Alvinho foi um dos artistas que aderiu a produção de lives.  “Consegui um bom público e às vezes um couvert artístico virtual, mas não o suficiente para arcar com as despesas do lar”, conta o cantor.

Esse contexto de adesão às lives pode ser visto no município de Congonhas, onde a realização do principal evento artístico da cidade, o Festival de Inverno, em 2020, aconteceu de maneira totalmente virtual. Este ano, ele ocorre entre os dias 15 e 29 de agosto, no mesmo formato.

O ator João Sabará, integrante do grupo teatral Terceiro Sinal, que atua no município de Congonhas desde 2007, fala sobre a necessidade de adaptação ao contexto dos eventos teatrais no formato remoto. Para ele, a maior diferença com relação aos eventos que antes ocorriam presencialmente é a ausência de interação direta com o público. “Ter o público presente é o que faz sentido estarmos em cena. Fazemos pelo nosso público. O online afastou um pouco o calor humano”, conclui o artista.