Uso de Canabidiol para tratar depressão e ansiedade depende de mais estudos

O composto extraído da cannabis sativa não deixa de ser um remédio de ação no sistema nervoso central, mas, médicos alertam, “qualquer medicamento não está isento de riscos.”

Por: Cícero Bento Xavier e Mayara Fernanda Souza Santana

Canabidiol

 

Stéphanie Santana, 30 anos, moradora de Juazeiro (BA), começou a sentir suas primeiras crises epilépticas ainda quando criança e, por volta dos seus 15 anos, percebeu que essas crises haviam se intensificado. Com o passar dos anos, os ataques epiléticos vinham diminuindo sua qualidade de vida, fazendo com que desencadeasse crises de ansiedade e de depressão. Ela relata que procurou por tratamentos e medicamentos convencionais, mas não obteve uma melhora significativa na sua saúde.

Por meio de uma reportagem, Stéphanie descobriu que existia um medicamento chamado Canabidiol (CDB), capaz de diminuir ataques epiléticos, crise de ansiedade e depressão. Em 2018, ela se mudou para Toronto, no Canadá, com o intuito de saber mais sobre o Canabidiol, pois, no Brasil, o assunto ainda era pouco debatido. No Canadá, teve acesso ao medicamento e ao tratamento à base da cannabis sativa. Ainda em busca de saber mais sobre o Canabidiol, se mudou para Amsterdã, na Holanda, onde estudou e trabalhou no Cannabis College, uma instituição localizada em Amsterdã que estuda a cannabis.

Depois do conhecimento obtido em suas viagens, hoje, Stéphanie considera que ainda estamos na caminhada para uma desmistificação da maconha, pois está um pouco atrasada em comparação a outros países, mas defende o Canabidiol, um dos componentes da cannabis, afirmando que esta é “uma planta medicinal fantástica, com mais de 500 propriedades”.

No Brasil, em 8 de junho de 2021, o Projeto de Lei (PL) 399/15, que regulamenta o plantio de maconha ,cannabis sativa, foi aprovado para fins medicinais e para a comercialização de remédio que contenham substratos da planta. Entretanto, desde 2019 que a Anvisa permite importação do canabidiol a partir alguns casos específicos aliado à prescrição médica.

 

Efeitos

O médico psiquiatra pela Universidade de São Paulo (USP), Bruno Machado, afirma que, embora extraído de uma planta, o uso do canabidiol só é justificado para quem tem realmente um diagnóstico em que existam evidências científicas de benefícios e somente quando as opções terapêuticas mais seguras forem ineficazes para o paciente. Para a depressão, ainda, nem sequer os pequenos estudos conduzidos demonstraram bons resultados com o canabidiol, alertou o médico.
 
Ademais, segundo a médica Alline Cristina de Campos, Phd no Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, os estudos pré-clínicos, publicados em revistas internacionais envolvendo pesquisadores brasileiros de outros países, sugerem que o CBD produz efeitos dos tipo-antidepressivos e ansiolíticos, uma vez que potencializa seus efeitos, possibilitando ações mais rápidas e com menor incidência de efeitos adversos.
 
Além disso, também no campo pré-clínico, o CBD parece ter efeitos antidepressivos agudos e sustentados como os da cetamina, um anestésico com atividade antidepressiva. Sendo que, no que se refere ao uso de CBD e outros canabinóides, em condições de ansiedade e depressão, é necessário mais pesquisas. Entretanto, segundo a doutora Alline, “a população pode ficar tranquila que pesquisadores do Brasil e em todo mundo estão todos os dias buscando formular e testar hipóteses através de experimentos em busca de novos tratamentos para estes transtornos.”
 
    Para que possa ser um medicamento, é necessário que o uso do Canabidiol seja aprovado pelas agências reguladoras, como no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Neste contexto, o relato de uso de canabidiol de pessoas em rede sociais ou outros meios de comunicação, como por exemplo, o caso da Stéphanie, ou, ainda, a publicação e relatos de casos em revistas científicas são dados valiosos para dar suporte a hipóteses, mas não constituem evidência definitiva sobre a possibilidade do uso do Canabidiol, outros canabinóides, a cannabis ou qualquer outros possíveis compostos com potencial terapêutico para o tratamento de transtornos psiquiátricos, tais como a ansiedade e a depressão maior.
 
Apesar de existirem pontos positivos sobre o uso medicinal da planta, mais estudos ainda serão necessários. Deste modo, a médica Alline Campos finaliza, fazendo um alerta: “Por isso, é muito importante que a nossa sociedade apoie as universidades públicas brasileiras, berço de nossas pesquisas científicas e inovações tecnológicas.”