Por: Pedro Olavo e Samuel Almeida
A acessibilidade é um direito garantido pelas leis LEI Nº 10.098/2000 e LEI N° 13.146/201. Trata-se de uma legislação para diminuir a segregação e promover a inclusão de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida na sociedade. Mas, acima de tudo, é uma maneira de tentar garantir independência e autonomia a essas pessoas, uma vez que a maioria precisa do auxílio de terceiros para se locomover.
Mariana foi a primeira capital de Minas Gerais e tem um rico patrimônio histórico. É a única cidade colonial mineira com traçado planejado e seu centro histórico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1945. No entanto, apesar de sua construção planejada, a cidade não oferece muitos recursos de acessibilidade, principalmente para cadeirantes. Ruas de pedras e paralelepípedos, escassez de rampas e presença de mobiliário urbano nas calçadas são exemplos de problemas enfrentados por essas pessoas. O município precisa lidar, então, com um desafio: promover acessibilidade sem degradar o patrimônio histórico preservado.
Ruas e calçadas de pedras, além de ausência de rampas de acesso são comuns em Mariana | Foto: Samuel Almeida
Com o intuito de mostrar as dificuldades enfrentadas por usuários de cadeiras de roda, na cidade de Mariana, e listar os locais do centro histórico cuja infraestrutura proporcione acessibilidade para essas pessoas, a reportagem saiu pelas ruas da cidade com usuários para checar alguns estabelecimentos. Um deles foi o Rafael Venâncio, de 34 anos, estudante de pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que acompanhou a reportagem em visita ao Museu da Música, ao Summer Açaí e Drogaria Americana.
Rafael gostaria que todos o centro histórico tivesse acessibilidade. Para ele, é algo básico para uma cidade. | Foto: Pedro Olavo
Quando estávamos circulando pela Rua Dom Viçoso, Rafael comentou: “Por causa do calçamento de pedra, a cadeira balança demais e isso danifica muito ela”. Não demorou para essa afirmação ser comprovada. Poucos metros adiante, foi necessário um reparo manual para que pudéssemos seguir em frente.
Rafael decidiu ser uma boa ideia visitar a açaiteria Summer, na Rua Zizinha Camelo. Para chegar lá, passamos por ruas mais movimentadas e, como as calçadas são intransitáveis, o rapaz foi obrigado a dividir espaço com carros e motos. Em um certo ponto, foi assustador de ver a velocidade e a proximidade com que um motociclista passou perto da cadeira de rodas. Na açaiteria, Rafael pode entrar com tranquilidade. “O acesso aqui é muito bom, até o banheiro é projetado para deficientes”, elogiou.
Em seguida, fomos à Farmácia Americana, que se encontra logo ao lado. Para o entrevistado, a acessibilidade é boa. No entanto, o único problema, segundo ele, “são as prateleiras que são muitos juntas”, o que dificulta a circulação com a cadeira de rodas. Depois, subimos novamente para a Praça Gomes Freire.
Rafael considera o local como um de seus lugares preferidos em Mariana. Mais conhecida como Jardim, a praça tem uma acessibilidade razoável. Só possui uma rampa para deficientes. “Se eu quiser subir no Jardim, eu preciso ir até lá na frente, pois só lá que dá pra subir”, disse Rafael, referindo-se à rampa no início da Rua Dom Viçoso.
Nós também acompanhamos a usuária de cadeira de rodas Cintia Soares e sua mãe Célia Martins Soares. Nos encontramos no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) e fomos em direção à Rua Direita, onde pudemos constatar as dificuldades decorrentes do péssimo calçamento do passeio público.
Cintia recebe ajuda de sua mãe para descer as escadas do coreto. | Foto: Pedro Olavo
Nossa primeira parada foi na açaiteria Trilha do Açaí. Cintia disse que a calçada era boa e facilitava a entrada na loja, porém, a rampa que dá acesso ao estabelecimento era muito íngreme e dificultava a entrada.
Em seguida, fomos à perfumaria O Boticário. No caminho até lá, tivemos mais um exemplo de dificuldade sofrida pelos cadeirantes. Como as calçadas em frente ao estabelecimento são muito altas, a pessoa que ajuda a empurrar a cadeira de rodas precisa fazer muita força para subir e descer a cadeira da calçada devido à falta de rampas. Isso também impossibilita o trânsito com cadeira de rodas motorizada. Dentro da perfumaria, fomos muito bem atendidos e Cintia disse que o local pode ser acessado tranquilamente com a cadeira.
Mais à frente, paramos na Farmácia Inova, que também apresentou uma boa acessibilidade. Contudo, as placas de trânsito na calçada dificultam a passagem, pois são colocadas muito próximas das paredes das casas, deixando o caminho muito estreito. Nessa mesma calçada, um pouco mais adiante, vimos um exemplo de rampa muito mal feita na frente do supermercado Varejão Popular. A rampa é extremamente íngreme e impossibilita a passagem tanto de cadeira de rodas manuais quanto das motorizadas.
Em seguida, visitamos o prédio da Previdência Social, onde Cintia e sua mãe não pouparam elogios. “O local tem uma ótima acessibilidade, e as pessoas nos atendem com muita educação, nunca tive problema em ter que vir aqui”, contou.
Na intenção de facilitar a busca por esses locais que apresentaram uma boa estrutura de acessibilidade, produzimos um mapa que mostra a localização e uma pequena descrição de cada estabelecimento.