Diversidade religiosa invisível na internet

Por: Cleverton Monteiro e Lucas Stocler

Centros religiosos, em Mariana, como igrejas evangélicas, centros espíritas e terreiro de umbanda, são invisibilizados devido à desinformação, informalidade  e ao preconceito. 

 

ABETURA

Momento de louvores na Igreja Batista Pentecostal Missionária Mariana. Foto: Cleverton Monteiro

Andando pelas ruas de Mariana fica evidente o quão religiosa a cidade é. Para além do catolicismo, existem ainda diversos outros centros de manifestação de fé, como casas espírita, igrejas evangélicas e terreiro de umbanda. Porém, fica perceptível a invisibilidade ao buscar informações sobre essas correntes religiosas, que são marcadas por preconceito e desinformação. Destaque, ainda, para a forma como se organiza uma parcela das igrejas evangélicas, geralmente de maneira informal, o que contribui para a desinformação com relação a onde elas residem.

De acordo com censo do IBGE de 2010, Mariana é composta majoritariamente por católicos, reunindo 43.047 fiéis, e além deles, 7.984 evangélicos, 391 espíritas, 22 umbandistas, 322 seguidores de outras religiões cristãs, 43 de religiões orientais ou tradições esotéricas e 2.241 que disseram não possuir religião, são ateus, não sabem ou são agnósticos. Apesar de a cidade ser composta por uma diversidade de  religiões, a principal fonte de informação online, o Google, entrega apenas resultados sobre os centros católicos.

A partir de informações obtidas pelo Cartório Barbosa – Registro de Títulos, Documentos e Pessoas Jurídicas, de Mariana, os centros religiosos registrados, além das sedes católicas, são duas casas espíritas, um terreiro de umbanda e 22 igrejas evangélicas. Essas últimas, quantitativamente são maioria na cidade, porém, geralmente começam a funcionar em pequenos grupos, na casa de algum dos integrantes. A partir do crescimento do grupo e da necessidade de expandir é que os participantes vão para uma igreja propriamente dita. 

Invisibilidade e preconceito

Isso de começar a funcionar em pequenos grupos e depois expandir aconteceu com a igreja de Amarildo Junior, pastor da Batista da Lagoinha, que fica localizada no Bairro Santa Rita de Cássia, em Mariana. O pastor traz uma questão bastante pertinente em relação a invisibilidade da igreja evangélica, ao abordar a informalidade. “Muitas das pessoas que abrem igrejas são pessoas que não possuem muito grau de instrução e são  muito humildes, que acabam ficando meio que na ‘ilegalidade’, porque o que elas querem na verdade é pregar a palavra de Deus”, afirmou. Essa ausência de conhecimento sobre administração afeta, inclusive, a forma como ocorre a divulgação desses centros religiosos. Segundo Amarildo, apesar de existir uma adesão de grandes igrejas às redes sociais, as menores ainda são bem presas ao “tête-a-tête”, expressão que ele utiliza para se referir a uma conversa face-a-face.

 

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Amarildo Júnior, pastor da Igreja Batista da Lagoinha de Mariana. Foto: Cleverton Monteiro

 

Já o que ocorre nos centros umbandistas é diferente. Segundo Marcelo Ramos, Babakekerê do Terreiro Mãe Maria de Aruanda, a questão da invisibilidade é uma escolha deles. Primeiro, ele pontua que essa religião é mais sensorial do que visual, em seguida, diz que ao divulgar imagens sobre os cultos e rituais religiosos, as pessoas que não frequentam o terreiro passam a fazer interpretações erradas sobre o que realmente se passa. A partir daí, se instaura uma corrente de preconceito e discriminação. “Colocamos como exemplo um médium que está tomado por um guia, daí ele faz alguma coisa, isso é filmado e depois publicado, as pessoas que veem e não conhecem a religião, interpretam errado e acaba gerando discriminação”, pontua. O babakekerê ainda fala sobre a necessidade de preservar a identidade das pessoas que frequentam o centro, pois, segundo ele, muitos dos que frequentam preferem que outras pessoas não saibam. 

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Marcelo Ramos, babakekerê do Terreiro Mãe Maria de Aruanda. Foto: Cleverton Monteiro

A questão do preconceito é algo percebido também pelo Centro Espírita Irmão Horta. De acordo com Roberto Luiz Araújo, um dos trabalhadores do centro, o espiritismo ainda é visto como “coisa do demônio”. Porém, ele ressalta que o trabalho desenvolvido perpassa muito sobre a prática de fazer o bem, o que torna a visão demonizada equivocada. Roberto conclui que a invisibilidade fica por conta dessa ótica pré-estabelecida, mas mesmo assim continua desenvolvendo ações que promovem o bem. “Temos que continuar a trabalhar em nome de Cristo, realizar as obras cristãs, procurar promover o bem estar e a segurança ao nosso semelhante, e com isso, auxiliar no crescimento da nossa comunidade”, afirma.

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Roberto Luiz Araújo, à esquerda, e um dos trabalhadores do Centro Espirita Irmão Horta. Foto: Lucas Stocler

A invisibilidade de alguns centros religiosos em Mariana é real devido à desinformação e a forma como alguns dos líderes e fiéis se organizam. As relações religiosas se dão de forma mais física, por essa razão o "boca-a-boca" ou "tête-a-tête" são mais eficazes para atrair fiéis do que uma publicação em um site. Por outro lado, a invisibilidade se torna um escudo usado para blindar a discriminação  e o preconceito que podem surgir a partir da exposição. Isso porque, a diversidade religiosa ainda não é algo bem aceito e a ignorância em relação a ela contribui para proliferação da intolerância religiosa. Porém, assim como pontuado por Roberto Luiz, o importante é permanecer praticando o bem, independente da visão distorcida que as pessoas tenham.