Por: Camila Branco e Enzo Teixeira
Pico da Cartucha
O primeiro ponto escolhido foi o Pico da Cartucha, localizado no alto bairro da Cartucha, aqui em Mariana. Depois de uma trilha em estrada de terra, sem muitas dificuldades a pé, a vista é a panorâmica de Mariana e Ouro Preto.
Placa do Pico da Cartucha no início do bairro. Foto: Enzo Teixeira
A trilha, em si, é tranquila, especialmente para aqueles que a percorrem de carro ou moto. Uma estrada de terra e areia consiste em uma caminhada bem tranquila até o topo. O maior problema é encontrar as informações que facilitem sua visita, como, por exemplo, qual o melhor ônibus para se pegar, o que levar nesse tipo de caminhada, o clima favorável para a vista e, até mesmo, os passeios oferecidos no pico.
Fomos para a Cartucha partindo do Centro, pegamos o ônibus de Passagem, como nos foi recomendado por moradores, e seguindo informações obtidas na internet, levamos o básico: água, boné, blusa de frio e o dinheiro para voltar. Descemos no ponto em frente ao Posto do Raul, na Chácara, e tivemos que percorrer toda a Cartucha, lotada de morros extremamente íngremes (mais do que a própria trilha), até chegar à caminhada. Quando, finalmente, alcançamos o início da estrada de terra fomos surpreendidos por um ponto de ônibus que revelou a verdade cruel: poderíamos ter pegado um ônibus que nos deixaria na porta da trilha, a linha “Alto do Rosário” te deixa em frente à entrada do “Pico da Cartucha”.
Superada essa tremenda decepção, seguimos a trilha. Eram 7 horas da manhã e chuviscava, a neblina já tomava parte da nossa vista, mas continuamos, apesar do frio. Na subida, encontramos vários carros que também percorriam a trilha e, com certeza, a subiam bem mais confortáveis. Já no fim da caminhada, a neblina nos tomou e não conseguimos finalizar a trilha no primeiro dia. Contudo, descobrimos que ali era um ponto para aqueles que desejam voar de asa delta e derivados, um dos pontos mais altos de Mariana e a vista é as duas cidades históricas mais bonitas de Minas Gerais.
Vista de Mariana a partir da subida do Pico da Cartucha. Foto: Enzo Teixeira
Serviço:
Altura: 1343 metros
Nível de dificuldade: O nível de dificuldade da trilha, na nossa opinião (em uma escala de 1 - 10) é de, no máximo, 5 a pé, pois a trilha em si, é bem tranquila. De carro a dificuldade é quase inexistente, é super acessível.
Distância: aproximadamente 6 km
Transporte para acesso: Carro ou ônibus (linha: Alto do Rosário)
Cachoeira da Serrinha
O segundo ponto escolhido por nós foi a cachoeira da Serrinha e é talvez uma das cachoeiras mais famosas da cidade. Seguimos em direção a Passagem de Mariana, distrito mais próximo do centro histórico da Primaz de Minas, mais uma vez de ônibus. É possível chegar ao destino por duas linhas, seja pela linha que vai em direção ao próprio distrito de Passagem, seja pelo ônibus intermunicipal com destino a Ouro Preto. É possível ainda fazer todo o trajeto a pé, por meio da pista de corrida paralela à estrada, saindo do centro histórico, mas nós decidimos tomar o ônibus para facilitar o caminho.
Vista durante a trilha em direção à Cachoeira da Serrinha; no dia, havia neblina. Foto: Enzo Teixeira
Seguimos um tempo em uma rua residencial, com rua de asfalto, até chegarmos em uma estrada de terra que estava extremamente escorregadia devido às chuvas da época. O caminho até a cachoeira é extremamente confuso, não existem placas nem sinalizações que indiquem a direção certa, por isso, tivemos que pedir informação várias vezes. A trilha estava, provavelmente, mais perigosa e difícil do que normalmente por conta das tempestades de verão que Mariana tem presenciado e, assim, tivemos muitas dificuldades. Um caminho de barro e pedra, além de extremamente íngreme, certamente não facilitou a aventura.
Definitivamente, essa não é uma trilha para se fazer sozinho, caso não conheça bem o caminho, nos perdemos quatro vezes durante a caminhada e tivemos que andar muito mais do que aventureiros experientes. Dessa forma, não é uma boa opção para sua primeira experiência como um aventureiro solitário.
Portando roupas leves para a caminhada, e roupas de banho por baixo, seguimos nossa caminhada até a cachoeira. É importante lembrar do uso de repelente, pois a trilha é rodeada por mato aberto, habitat de diversos animais peçonhentos. E, também, do uso de protetor solar, mesmo se o dia estiver nublado. Apesar das nuvens e do clima chuvoso, o mormaço de Mariana é propício para vermelhidões na pele.
O dia estava nublado e chuviscava quando, ao final da trilha, chegamos ao nosso destino final. A Cachoeira da Serrinha possui várias quedas d’água, com muitas piscinas naturais, algumas mais rasas outras mais fundas. As águas extremamente geladas das cachoeiras pedem que o dia que você escolha percorrer o caminho seja um dia quente.
Rodeada pela natureza, o início da Cachoeira da Serrinha se faz visível. Foto: Enzo Teixeira
Por fim, decidimos, antes de fazer nosso caminho de volta, comer um lanche, que havíamos levado em nossas mochilas. Sanduíches, salgadinhos, e uma garrafa de água, nada que faria muito peso durante a caminhada. Esse passo foi fundamental, pois o dia abafado combinado ao esforço físico pode ser muito perigoso, especialmente quando favorecido pela desnutrição. Nosso pequeno piquenique foi ambientalizado em uma das paisagens mais bonitas que vimos em Mariana, a natureza da Cachoeira da O visual da Serrinha é estonteante.
Serviço:
Altura: 1062 m
Nível de dificuldade: Em tempos de chuva, a dificuldade beira os 7, mas com o solo seco, a dificuldade seria aproximadamente 6.
Distância: saindo do centro de Mariana, aproximadamente 13 km de caminhada. Com ônibus ou carro, a trilha se transforma em 5 km, aproximadamente, contudo com subidas íngremes em altitudes mais elevadas.
Transporte para acesso: Carro ou ônibus (linhas: Passagem ou Ouro Preto X Mariana)
Opinião de um trilheiro
Depois de todos nossos perrengues, resolvemos consultar um trilheiro experiente da região para determinarmos se nossas dificuldades eram consequência da nossa pouca vivência com os esportes de aventura. Victor Milagres Miranda da Costa Santos, 29 anos, é nascido e criado em Mariana e, desde novo, gosta de percorrer, em sua bicicleta, a natureza que rodeia a primaz de Minas. Ele conta que, em cidade pequena, as opções de lazer são poucas, portanto ele se divertia encontrando trilhas e cachoeiras novas durante os momentos livres. Atualmente, ele possui uma loja de venda e conserto de bike, a VM Bike Service, e também trabalha como guia voluntário para turistas e moradores que queiram visitar as paisagens naturais locais.
Victor fala, com pesar, do descaso marianense com o lazer de aventura. Apesar de ser uma cidade que respira o esporte, tendo diversas associações de vôlei, handebol, futsal, entre outros, Mariana, enquanto instituição, menospreza a natureza presente nela. Verídico em vários aspectos, os governos estadual e municipal são quase indiferentes ao potencial local de turismo de aventura que a cidade possui, tendo a mente fechada em volta da economia baseada na exploração do minério que, por sua vez, cada vez mais destrói a natureza.
O trilheiro nos conta que ele iniciou um projeto, por conta própria e com a ajuda de alguns amigos, que visa a limpeza de diversas trilhas do território de Mariana. Não somente, ele tenta, há anos, conseguir patrocínio e apoio da prefeitura para colocar placas de sinalização nos caminhos das trilhas e das cachoeiras. Ele diz que isso seria um enorme incentivo para que as pessoas praticassem mais o lazer de aventura, pois o cenário atual é o de medo. Muitos não vão em trilhas e cachoeiras por medo de se perderem ou de serem assaltados, por serem regiões sem o apoio policial da cidade. “Mariana não tem estrutura. Não tem um guia, não tem uma placa, uma sinalização”, ele afirma. Victor diz, ainda, que falta um incentivo da prefeitura ao turismo.